Atuação do Cirurgião Dentista no SETOR PRIVADO

Fernando Aparecido

Importante

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Quais são as áreas de atuação no setor privado?

Nesse capítulo, é importante lembrar que vou focar na prestação de serviço odontológico, ou seja, atuar como dentista em empresas e consultórios privados.


Existe a possibilidade de atuar em várias frentes nesse setor. Como exemplo, cito lecionar em instituições privadas, como sempre fiz. Ou de profissionais que trabalham em empresas que fabricam produtos odontológicos tanto na parte comercial quanto na prestação de assessoria técnica. Não clinicam pela empresa, mas contribuem pelo conhecimento técnico. E com certeza teremos outros exemplos que nem poderia citar, pela ausência total de informação e/ou pelo desconhecimento de profissionais que atuam em algumas áreas.


Para os dentistas que querem prestar serviço na iniciativa privada, vou começar pela parte mais crítica. Não é para desanimar, mas acho que são desafios que precisam ser encarados desde o início, ainda antes de buscar o emprego.


Quando começar suas atividades em uma clínica ou consultório privado, lembre-se que em algumas situações, não conseguirá realizar o protocolo de atendimento que aprendeu na faculdade.


Estranho dizer isso, mas vou exemplificar para melhor entendimento. Digamos que você se formou em uma boa instituição de ensino, com ótimos professores e forneceu os melhores materiais para atendimento clínico. Aprendeu a fazer uma boa moldagem, uma boa restauração, um bom tratamento endodôntico.


Ao se formar, é indicado a trabalhar em uma clínica cujo proprietário lhe fornece material e insumos de qualidade duvidosa, que o protocolo da consulta é bem diferente do que aprendeu, muitas consultas por dia e com falhas em biossegurança. Caso não concorde com isso, seguramente não terá futuro nesse lugar. Mas se estiver precisando muito trabalhar pois as contas não esperam, terá que se sujeitar a atender dessa forma até conseguir algo novo, que ofereça um serviço odontológico em que você acredite e que ache certo. Difícil não? Aconteceu comigo isso uma vez.


Fui convidado a trabalhar em uma rede de clínicas muito famosa na época, mas que já faliu. E hoje entendo inclusive o porquê disso acontecer. A proposta financeira era muito boa. Para se ter uma ideia, ganharia em 4 dias de trabalho mensal, o salário de um dos meus empregos naquela ocasião. No entanto, não concordava com o protocolo de atendimento. E achei que não seria bom trabalhar nesse lugar apenas pelo lado financeiro porque tinha a minha subsistência de outras formas. Não sou contra isso. É apenas a minha opinião.


Pensei na minha carreira como um todo, que talvez pudesse me arrepender disso depois, fazendo procedimentos que vão contra os meus princípios. Mas se não tivesse opção, iria fazê-lo da melhor forma possível. Dar o máximo para o seu paciente com os recursos que lhe são fornecidos é o mínimo que se pode fazer. Isso se chama ética na profissão. E muitas vezes essas condições não são ideais. Mas temos que fazer a nossa parte! Dificilmente teremos as circunstâncias perfeitas, inclusive em grandes e boas empresas. Isso é uma utopia. Mas sempre dê o seu máximo!


Com relação a parte financeira, o problema pode ser maior ainda.... Já ouvi de tudo. Tem clínicas que pagam 20% a 30% do total de seu faturamento e livres de impostos. Outras da mesma forma, mas terá que levar material, principalmente EPIs. Há clínicas que oferecem tudo e pagarão entre 40% a 50%, porém terá que recolher o imposto.


Ainda pode encontrar clínicas que pagam um fixo por dia, ou seja... tem de todos os jeitos. E a questão do prazo de pagamento. Existem clínicas que te pagarão no mesmo dia em que realizou os procedimentos. Outras pagarão em um dia fixo do mês sobre valor que fez nesse período. Tem clínica que te acertará depois de quase 60 dias após ter feito o procedimento. E pasmem... há lugares que te exigirão ficar o dia todo, por até 12 horas, independentemente de atender paciente ou não, sem salário fixo...


Nem os vendedores de loja de varejo passam por tal humilhação. Recebem pelo menos um salário mínimo para isso.


Sinceramente, acho que nós, cirurgiões dentistas, deveríamos não aceitar certas coisas... Entendo a dificuldade de muitos para sobreviver. Mas acredito que, enquanto alguns profissionais aceitarem condições humilhantes, a tendência é sermos explorados cada vez mais. Lembrem-se que estamos todos no mesmo barco. Se ninguém aceitar, essas clínicas terão que mudar o método, pois dependem de nós para existirem.


Os donos desses lugares, mesmo sendo cirurgiões dentistas, não conseguem atender mais de uma pessoa simultaneamente. Mas sinceramente não quero polemizar... é apenas a minha opinião... Eu só penso em uma coisa. Será que quem oferece condições tão ruins assim aceitaria isso? Eu preferiria mudar de profissão! Afinal tem administradores de clínicas e THDs que ganham muito mais que alguns cirurgiões dentistas...


Para os que vão prestar serviço em entidades privadas e serem registrados (SESC, Sindicatos, etc), terão benefícios. Aliás, todos que um regime CLT garante. Algumas entidades oferecem até mais benefícios que os garantidos por lei. Seria muito bom, principalmente em início de carreira. Infelizmente são poucas vagas para muitos dentistas que se encontram no mercado.


Normalmente passam por exames rigorosos de seleção e, em alguns casos, precisam também serem bem indicados. O normal que qualquer trabalhador de qualquer área tem que se submeter ao querer trabalhar em alguma empresa. Conheço vários amigos nessa situação e, na maioria das vezes, gostam do emprego. Não têm estabilidade, mas se trabalharem corretamente dificilmente são demitidos. Várias pessoas conseguem se aposentar nesses lugares. E são felizes. Procure se informar se na sua cidade existe essa possibilidade. Pesquise e vá conhecer. Se persistir, garanto que conseguirá.


Existe uma modalidade de emprego atualmente cada vez mais comum que é prestar um concurso para trabalhar em OS (Organização Social). Na verdade, resumindo, consiste em oferecer seus serviços profissionais em uma UBS, UPA ou CEOs, mas você não se tornará um servidor público no papel. Atenderá como um funcionário público, porém, será trabalhador de uma entidade privada que administra esse sistema. A prefeitura repassa a verba para uma associação que administra com mais eficiência que o setor público. Pelo menos é essa a ideia.


Obviamente o governo monitora (ou deveria) para cobrar os resultados dessa prestação de serviço. A diferença fundamental de um servidor público é que não terá a estabilidade do emprego. Mas conheço muita gente que trabalha nesses lugares e, se for um bom funcionário, não terá problemas com relação a isso. Os salários são maiores que no funcionalismo público, mas a cobrança também, em todos os sentidos. Na hora da aposentadoria, até onde conheço, você estará submetido ao regime do INSS.


Talvez seja o futuro da prestação de serviço público daqui para frente. É uma forma que o governo encontrou para fazer uma parceria público/privada oferecendo o serviço para a população e se isentando dos ativos mais pesados que são os funcionários e a infraestrutura dos consultórios que são muito altos.


Independente da área que escolher nesse setor, uma coisa é certa: se não apresentar bons resultados ou se receber muitas reclamações por parte dos pacientes, dificilmente conseguirá se manter no mercado. E eu vejo isso com bons olhos porque eu sempre defendi que os bons profissionais devem ser mantidos. Os maus são os que denigrem a imagem da nossa profissão. Como professor sempre insisti nisso com meus alunos.


Aproveitando a última frase, vou escrever algo em ser professor. Uma das minhas maiores paixões. Será fácil discorrer sobre esse assunto. Leciono desde os meus 19 anos. Ainda estava me graduando em Odontologia. Lecionava química em um colégio público substituindo um professor que estava readaptado (não pode mais lecionar por algum problema de saúde e passa a fazer serviços administrativos).


Por um acaso, esse professor é um dos meus melhores amigos e também paciente desde essa época. E detalhe, coincidentemente fui professor da sua filha na faculdade. Hoje ela também é professora e fomos colegas por muitos anos em uma instituição de ensino. Minha amiga e paciente também.


Tenho excelentes recordações desse início da minha vida acadêmica. Lecionava na lousa usando giz. Luz acesa. Olho no olho. Muito diferente das aulas de Odontologia que usam muitas imagens e sala escura. E não existe o melhor ou pior. São diferentes. Como não se tem o recurso da imagem, o professor tem que ter muita criatividade para poder transmitir certas informações. Eu não sei desenhar. Tinha que ser através das palavras mesmo. E acredito que foi uma excelente escola para mim.


As vezes algum colega da faculdade me perguntava como conseguia falar por muito tempo com os alunos sobre determinados assuntos sem imagens ou diapositivos.... Eu respondia que devo ter aprendido quando era professor de química...


Nessa época fui convidado a participar de um processo seletivo para fazer pós graduação na faculdade que me formei. Já estava para me graduar e o início da caminhada começava em um estágio didático na disciplina que havia escolhido. Se quer seguir o caminho da vida acadêmica, de uma coisa não conseguirá fugir: pós graduação stricto sensu (Mestrado, Doutorado). Não são todas as instituições de ensino que oferecem esse tipo de curso. Geralmente são as públicas. As privadas são muito poucas e, quando oferecem, em muitos casos são pagas.


Nas públicas, além de serem gratuitas, ainda pode conseguir uma bolsa de estudo para sua subsistência através de órgãos de fomento em pesquisa. As vagas são escassas e alguns cursos abrem-se processos seletivos com apenas 5 a cada 2 anos. A concorrência é muito grande, principalmente se fizer em uma instituição pública. Se não gosta de ser aluno de graduação, garanto que de pós é muito pior. Terá as mesmas obrigações como provas, aulas e ainda acumulará atribuições que não tinha antes, como experimentos e projetos de pesquisas. E o pior, às vezes, ninguém te cobra. Mas quando chegar a hora dos resultados, terá que apresentá-los. E espero que você os tenha porque a encrenca que irá arranjar será grande.


Para exemplificar, cito a experiência de fazer uma tese. Para realizá-la, precisará fazer experimentos que podem levar muito tempo. Tem alguns que necessitam cultivar células em um período de 2 anos. Se o prazo da entrega da sua tese for em um ano, concorda que não dará tempo? (Sim, existem prazos!!!!).


Outras pesquisas, precisará treinar muito uma metodologia (vários meses) para fazer a tese porque não poderá perder seu material biológico por erros de técnica (como por exemplo dentes humanos, cada vez mais escassos). Se se distrair, quando estiver acabando seu prazo, ainda estará na fase de treinamento. Ainda bem que existe a figura do orientador, que estará olhando por você (ou deveria). É muito comum os alunos gostarem de “orientadores legais” (que não cobram muito). Mas lhe asseguro com toda a convicção: os mais “chatos” e “exigentes” serão os que não te deixarão perder o prazo e que te farão crescer profissionalmente.


Fazer mestrado e doutorado é uma vocação. Muita gente se empolga, mas ao iniciar o curso descobre que não tem afinidade com isso. Lembre-se: tudo tem ônus e bônus como sempre digo. Se realmente quer lecionar em uma faculdade de Odontologia, terá que percorrer esse caminho. Antigamente algumas instituições de ensino não exigiam tal formação. Atualmente, todas exigem. E quanto mais se qualificar, mais chances terá de ser escolhido em um processo seletivo.


Os que fazem a pós graduação no exterior, em uma boa e renomada instituição, têm maiores chances. Até pelo domínio de uma segunda língua. Fui muito feliz em meu curso. Tenho excelentes recordações. Percorreria o mesmo caminho se tivesse que fazer tudo de novo. Fiz muitos amigos que mantenho até hoje.


Com relação a salários, asseguro que temos de tudo. Geralmente nas instituições públicas os salários são melhores. Mas lembremos que o país passa por mudanças e talvez isso não seja mais uma verdade daqui alguns anos. Os processos seletivos em universidades públicas são muito rigorosos. Em vários casos duram dias. E a concorrência é enorme. Às vezes não é uma questão de relação candidato/vaga. Há concursos de apenas 2 candidatos disputando uma vaga. Mas lembre-se que esse outro candidato é muito, mas muito qualificado!


Nas universidades privadas têm vários tipos de processos seletivos.


Se já é um professor, que tenha boa reputação. Isso é muito importante. Com o mundo cada vez mais conectado, é fácil conhecer uma pessoa pelas redes sociais. Sempre gosto de insistir que ser professor é uma vocação. Se racionalizar muito, dificilmente seguirá esse caminho.


Acredito que seja complicado lecionar por dinheiro. Até porque na maioria dos casos, os salários não são tão altos. Conheço alguns professores visivelmente frustrados. Parecem que estão indo para a forca quando têm que lecionar. E quando lecionam, “vomitam” a matéria na tentativa de encerrar a aula o mais rápido possível.


Acho um desperdício, pois acredito que todos temos um dom que recebemos e fazemos bem, sem esforço e com prazer. Eu amo lecionar. Não sinto que estou trabalhando quando faço isso. Por isso, pense bem antes de escolher esse caminho. É muito longo, suado e sofrido para desistir depois...


Para os que querem trabalhar em empresas que fabricam/comercializam produtos odontológicos, terão muitas opções de escolha. Podem trabalhar na área comercial divulgando produtos, na parte administrativa como planejamentos e estratégias, departamento científico como um consultor ou mesmo desenvolvedor de produtos.


Nesse último caso, é comum a empresa exigir uma formação de pós graduação na área. Afinal vai lidar com pesquisas também. Pelos amigos que conheço e atuam nesse ramo, geralmente gostam muito. Participam de feiras e congressos no mundo todo. Relacionam-se com profissionais renomados que ajudam a divulgar os produtos. Tem uma parte social muito intensa. É frequente essas empresas organizarem jantares e meetings. Obviamente também têm as suas dificuldades.


Devemos lembrar que existe, com certeza, um interesse comercial que se traduz em vendas. Se isso não ocorrer, existirá uma pressão sobre esses funcionários. Com relação a salários, não tenho a mínima ideia de valores. Do que conheço, geralmente esses profissionais trocam de empresa, mas nunca saem do ramo. Lembra jogador de futebol! Trocam de time, mas continuam sendo atletas. Jogadores de futebol costuma ter bons salários (risos).

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